domingo, 14 de outubro de 2012

NIMUENDAJÚ, longa metragem

Entre os Apínayé,  julho de 2012. Último dia de filmagem na aldeia Patizal. Foto: Thiago Franco.

NIMUENDAJÚ, desenho animado para adultos. História de Curt Nimuendajú, etnólogo alemão radicado no Brasil responsável por estudos de campo pioneiros sobre diversos povos indígenas brasileiros. Morreu entre os Tikuna, na Amazônia, em 1945. Para viver o papel de Curt, o ator alemão Peter Ketnath (Cinema, Aspirinas e Urubus) visitou os povos que serão abordados no filme, os Apinayé (Tocantins) e os Canela/Rankokamekrá (Maranhão). 

Roteiro: Anna Flávia Dias Salles e Jane Malaquias
Direção: Tânia Anaya
Produção: Anaya

Escrever para animação tem suas particularidades. A fluidez possível no desenho permite elipses e pesquisas formais sem limites. O limite era: estamos fazendo um filme-biografia, quer dizer, tem parte com a “verdade”. E tínhamos como matéria,  diga-se de passagem, um “material de verdade” muito mais rico do que minha vã filosofia poderia imaginar, bastava ler qualquer uma das Cartas do Sertão que Curt Nimuendajú deixou. 
Corrida de Toras, povo Canela Rankokamekrá (Maranhão), agosto de 2012. Foto: Thiago Franco.

O filme trata, em última instância, do abismo e da proximidade possível entre culturas muito distintas entre si, e não apenas entre índios e “brancos”, mas, entre índios e índios.
Peguei o primeiro tratamento pronto, feito pela Jane Malaquias e pela Tânia Anaya (diretora). Faltava inserir núcleos importantes e rearranjar a estrutura, o que fiz com a colaboração de Tânia Anaya, Leandro Saraiva e Clarissa Campolina. 


Concept Núcleo Parintimtim (Anaya)

Exerci outra atividade neste filme que foi uma boa novidade: Assistente de Direção em Área Indígena. Por que há aspectos muito específicos no fato de ser em área indígena. O contato com estes dois Outros, os Apinayé e os Canela/Rankokamekrá me deu a sensação de... peso. Peso muscular mesmo. Peso de corpos pisando suas terras, percorrendo seu espaço cultural e cosmológico, peso da diferença entre as peles do ator alemão Peter Ketnath e as peles dos índios, do calor, das chuvas de areia, da diferença de línguas, do cotidiano enfim, sempre mais rico, um constante desafio para a escrita.

Sobre essa experiência, escrevi duas crônicas:
Entre os Canela/Rankokamekrá 1
Entre os Apinayé 1

Em breve, com a montagem do que foi gravado em campo e em estúdio, e com os conceitos  visuais prontos, vamos reavaliar a carga dramatúrgica do material e ajustar o roteiro num último – será?   tratamento. 

Concept Anaya

Concept Anaya

NENÉM, documentário Coração Tambor



Lançado em outubro de 2012, CoraçãoTambor é um documentário sobre o baterista belorizontino Esdras Ferreira, o Neném.  A direção artística deste primeiro CD solo de Neném teve direção artística de Toninho Horta, Juarez Moreira e Mauro Rodrigues. O filme acompanha os bastidores das gravações, observando o processo de produção do disco entre amigos de longa data.


Roteiro de gravações e colaboração no roteiro de montagem: Anna Flávia Dias Salles
Direção: Clarissa Campolina e Tânia Anaya
Produção: Teia+Anavilhana e Anaya
Idealização e Realização: Bangalô Produções


A função do DVD Coração Tambor era a de registrar o processo de produção do primeiro disco do baterista belorizontino Esdras Ferreira, o Neném. Percebemos, ao conviver com Neném, que o acompanhamento do trabalho em estúdio seria nossa melhor chance de mostrar o talento deste músico virtuose – ver o Neném tocar é o bicho! – ao invés de tentar percorrer sua intimidade, seu cotidiano, coisas que ele prefere deixar reservadas, na contra-corrente do fluxo de exposição da vida pessoal, tão em alta no mercado de arte.

Começamos, as diretoras Clarissa Campolina e Tânia Anaya e eu, a ver vários filmes do gênero para afinar uma linha de criação que embasasse o trabalho. Vimos de Amadeus (Milos Forman) a Godfathers & Sons (Marc Levin), passando por Sympathy for the Devil, (Godard), Nelson Freire (João Salles) e a bela série The Blues, produzida por Martin Scorcese.

Guardadas as proporções, mãos à nossa obra: o trabalho era  trazer pra tela a construção de Coração Tambor. Tínhamos três diretores musicais monstros (Toninho Horta, Juarez Moreira e Mauro Rodrigues) e dois ambientes: estúdios de som e o show no Conservatório Jazz Dance, onde Neném nada confortável como numa placenta.  



Fiz um roteiro de gravações baseado, ainda, numa pré-entrevista com  Neném. Depois, com base no material recolhido, pensamos uma estrutura e pude partir para o roteiro de montagem. DVD lançado pela Bangalô Produções em outubro de 2012.



MUSEU DA LITURGIA DE TIRADENTES, MG

Instalação: GESTOS.

O que seria um Museu da Liturgia? Muito se pensou, se debateu e se produziu conceitualmente sobre essa questão ao longo de um ano antes de sua inauguração em abril de 2012. No www.museudaliturgia.com.br/creditos  se pode verificar o que foi o desenho de equipe que possibilitou este trabalho.

Criação e desenvolvimento do percurso audiovisual: Anna Flávia, Eduardo Zunza, Guilherme Lessa, Marcelo Braga, Ronaldo Barbosa
Argumentos e estruturas de roteiros: Tria Criação e Produção (Anna Flávia e Guilherme Lessa)
Projeto museográfico: Studio Ronaldo Barbosa
Realização: Paróquia da Matriz de Santo Antônio da Cidade de Tiradentes
Idealização, projeto técnico e execução: Santa Rosa Bureau Cultural


A parte que me coube foi contribuir com a criação e desenvolvimento do percurso audiovisual do Museu e produzir estruturas, argumentos, roteiros para as instalações desse percurso e, posteriormente, para o aplicativo multimídia, site e vídeo de abertura. Desde o início me senti impelida a pensar formas de como este trajeto poderia evocar no público o seu silêncio, o seu estado íntimo de devoção, complementando, dessa forma, a experiência de contato dos visitantes com o acervo. Foi um esforço de transpor para imagens e sons o sopro, o intangível imanente nos objetos devocionais expostos.

Instalação Tela Trilho.


Colaborar na criação de percursos deste tipo é um trabalho interdisciplinar muito estimulante que envolve consultores, museógrafos, museólogos, o pessoal da videografia e profissionais especializados em tecnologia. Não é um caminho reto e sequencial de criação, pois a concepção, muitas vezes, parte de outros pontos do processo, inclusive do formato tecnológico disponível. Esse formato horizontal de concepção do Museu foi uma aposta de Eleonora Santa Rosa, que coordenou todo o processo.